23.11.05

Viajem de ida (e volta?) para o Inferno.

(Round Trip to Hades) *
Domingo, 25/09/05, 8:00 horas da manhã: Eu e minha esposa ainda estamos dormindo. O telefone toca, é a esposa do meu pai. Ela diz que ele está vomitando deste a noite anterior e com fortes dores de cabeça. Minha esposa, que é médica, vai até lá e o medica partindo do pressuposto de que se trata de uma intoxicação alimentar. Às 12:00 estou saindo para levar minha filha de 16 anos para o local onde irá prestar a prova do Enem e o telefone toca novamente. Meu pai havia piorado, continuava vomitando e as dores de cabeça estavam tornando-se insuportáveis. Quando volto, minha esposa já tinha marcado uma consulta com um gastroenterologista (médico que cuida do estômago) para as 13:30 em um hospital próximo de minha casa. Após examinar meu pai, o médico disse que não havia evidências de problemas estomacais ou intestinais e nos recomendou chamar rapidamente um neurologista (médico que cuida da cabeça, do cérebro e dos nervos). Por sorte, temos um amigo que é neurologista e que as 14:30 já estava examinando meu pai e afirmando a necessidade imediata de uma tomografia computadorizada. 15:30 horas: estamos no instituto de radiologia, onde será realizada a tomografia.

Pausa para falar quem era meu pai até 24/09/05: Com setenta anos de idade, A.G. (suas iniciais) é um homem perfeitamente saudável, trabalhou sua vida toda intensamente no ramo de manutenção mecânica pesada, onde é muito respeitado. Ele sempre teve hábitos saudáveis, não bebeu ou fumou, não tinha diabetes, mantinha uma alimentação saudável, apesar de ter somente 1,63 de altura e 58 quilos, era extremamente forte e quando brincávamos com ele dizendo que estava ficando barrigudo (uma evidente mentira), no dia seguinte, voltava a fazer abdominais. Ou seja, nós achávamos que ele tinha saúde suficiente para viver uns cem anos.

Voltando à Radiologia: Mais ou menos 16:30, eu, minha esposa e Dr. M., nosso amigo neurologista, estamos assistindo a Técnica em radiologia realizar a tomografia computadorizada em meu pai. À medida que as imagens vão aparecendo na tela do computador até eu, que não entendia nada do assunto, posso perceber que há algo evidentemente errado. O hemisfério cerebral direito apresenta uma mancha e a linha média entre os dois hemisférios está convexa, demonstrando uma invasão do esquerdo pelo direito. Olho então para o médico que, talvez por ser meu amigo desde a infância, não consegue esconder a preocupação com gravidade da situação. Minha esposa também demonstra evidente apreensão. Dr. M. resolve chamar um médico especialista em radiologia, antes de falar comigo sobre sua hipótese de diagnostico. Quando chega, Dr. F. concorda plenamente com M., o problema é que meu pai é portador de um Glioblastoma Multiforme, um Glioma de Grau 4 , que irá matá-lo dentro de um período de seis meses a dois anos. Eu e minha esposa ficamos completamente perplexos e chocados, assim como nossos amigos e familiares.

......Abriram-se as portas do nosso inferno!
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*Round Trip to Hades é o título do primeiro capítulo do livro de Ben Williams, Surviving "Terminal” Cancer: Clinical Trials, Drug Cocktails, and Other Treatments Your Oncologist Won’t Tell You About (Sobrevivendo a um Câncer "Terminal": Experiências Clínicas, Coquitéis de Medicamentos e Outros Tratamentos Sobre os Quais o Seu Oncologista Não Vai Lhe Falar). O autor deste livro é um dos raríssimos sobreviventes de tumores cerebrais do tipo Glioblastoma Multiforme de Grade 4. Ele foi diagnosticado em 1995 e publicou o livro em 2002. Continua vivo, trabalhando, estudando e divulgando seus achados sobre o assunto. O título deste post é uma alusão à idéia do primeiro capítulo do livro, por enquanto, estamos somente na ida e a volta continua uma incógnita.

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