8.2.07

Por que não comemoro mais os resultados das ressonâncias.

Um agradecimento ao Márcio, meu irmão, tenaz e lutador.


A ressonância
No dia 03/08/06, muito perto de completar 10 meses da data da cirurgia, fomos ao instituto de radiologia para mais uma ressonância magnética de controle da evolução da doença. Como se sabe, tendo em vista a agressividade dos tumores do tipo glioblastoma, é necessário fazer um acompanhamento constante, o que permite identificar o mais cedo possível o ressurgimento da doença e assim tomar providências rapidamente para evitar danos maiores.

Naquela data, meu pai estava fazendo o sexto ciclo de quimioterapia com temodal, portanto um pouco fragilizado. Apesar disto, o procedimento foi muito tranqüilo. Ajudei-o a se trocar e o levei até a sala. Depois, junto com minha esposa, assisti a todo o exame da sala do técnico em radiologia. À medida que as sucessivas imagens iam sendo geradas, não eram evidentes mudanças significativas em relação ao exame realizado dois meses antes. Esta minha suposição foi confirmada quando o Dr. A., médico radiologista veio ver junto conosco as imagens. Comparando-as com as do exame anterior, ele nos afirmou que aparentemente não havia nenhuma alteração, mas disse que faria uma análise mais minuciosa antes de emitir o laudo. Quando este nos foi entregue, confirmou que não havia indícios de atividade tumoral. Tendo em vista nossas expectativas, sempre ruins em função das estatísticas que conhecemos, um resultado como esse seria merecedor de uma grande comemoração ou, no mínimo, de um post com o “Feliz da Vida: Hip, Hip, Hurra!”, que fiz quando da ressonância anterior. Mas desta vez eu nada fiz, além de comunicar a todos a realidade.

Para que se possa entender os motivos que eu tinha para ficar alegre, é preciso saber que apenas uma parcela pequena dos pacientes de glioblastoma chega ao décimo mês após a cirurgia sem que o tumor tenha voltado. Uma medida muito utilizada para fazer comparações entre dois tratamentos distintos é o “Tempo de Sobrevivência Livre de Progressão da Doença”, em inglês “Progression Free Survival”, conhecido pela sigla PFS. Os dados, obtidos pelo acompanhamento do histórico de milhares de pacientes, indicam que cerca de metade deles têm uma recidiva antes de 6 meses. Com a introdução do uso da temozolamida esta perspectiva parece ter melhorado um pouco. Ainda assim, a porcentagem dos que chegam aos 10 meses livres de recidiva, mesmo com o temodal, é bem pequena (menos que 10%). Considerando que meu pai tinha muitos fatores de prognóstico ruins, a nossa esperança de que atingisse essa marca era praticamente nenhuma, o que não nos impediu de fazer todo o possível em nossa luta. Felizmente, para contrariar as estatísticas, as expectativas não se confirmaram e é possível que nossos esforços tenham tido grande influência na obtenção deste memorável resultado. Portanto, Hip, Hip, Hurra!, três vezes. Meu pai estava muito bem.

Uma Ajuda Inesperada e de Inestimável Valor!
A história deste blog é a história de uma busca desesperada por tratamentos complementares para essa doença terrível chamada glioblastoma multiforme. Quando decidi escrevê-lo, tinha o propósito de relatar o caso e compartilhar as minhas descobertas e dúvidas com quem delas precisasse ou pudesse ajudar. Esperava também poder contar com o discernimento e as críticas dos que viessem a ler minhas conclusões. Passados alguns meses, quando eu já não esperava mais, aconteceu o improvável, pelo blog ganhei um aliado muito valoroso: o Marcio, um engenheiro, de ascendência nipônica, residente em uma cidade de Minas Gerais, contatou-me e isto fez enorme diferença! Sua razão para estar lendo o Diário era o fato de sua jovem esposa ser portadora de uma doença similar e tão grave como a de meu pai.

G. , a esposa de Márcio, na época que os conheci, tinha 29 anos e era mãe de uma linda menina de 2 anos. A história dela com tumores cerebrais havia começado oito anos antes, quando foi diagnosticado um Astrocitoma de Grau II, um dos possíveis tumores cerebrais da glia, no caso, das células chamadas astrócitos. O grau II significa uma malignidade muito menor que a dos tumores de Grau III ou IV. Este tumor inicial foi operado com sucesso e sua vida foi completamente normal e livre de seqüelas por vários anos. Mais tarde, terrivelmente, um novo tumor foi encontrado. A nova neoplasia foi identificada em uma tomografia de controle e classificada como Astrocitoma Anaplásico, também um glioma maligno, de Grau III. Seu tamanho, já na época do diagnóstico, era muito grande, bem maior e disseminado do que o encontrado em meu pai. Por esta razão, a cirurgia, o passo inicial do tratamento, não pode ser tão bem sucedida. Os cirurgiões encontraram muitas dificuldades para retirar o tumor sem causar lesões ou seqüelas à paciente. Como conseqüência, restou inoperável uma importante quantidade de massa tumoral em seu cérebro. A tarefa de combater esta porção do tumor deveria então ser feita pela radioterapia e pela quimioterapia. Como o prognóstico comunicado ao Marcio após a cirurgia não foi bom, ele passou a procurar alternativas e complementos que melhorassem as perspectivas.

Durante meses me correspondi com o ele diariamente por e-mail (várias vezes ao dia) e muitas vezes falamos ao telefone. Juntos, decidíamos o que pesquisar, como analisar, quais eram as conclusões e o que fazer com elas. Sempre dividíamos todo o trabalho em partes iguais e, como bom samurai, ele invariavelmente acabava a parte que lhe cabia antes que eu acabasse a minha, num exemplo de perseverança e dedicação muito difícil de se encontrar igual. Sua inteligência e força de vontade ajudaram sobremaneira na escolha dos complementos que depois seriam usados em meu pai e em sua esposa. Como julgo serem estes complementos os responsáveis pela ótima evolução do caso de meu pai, há muito tenho que dizer algo publicamente: MARCIO, MUITO OBRIGADO! Você escreveu seu nome para sempre na história de minha família. Sempre seremos gratos.

Com o passar do tempo e antevendo as dificuldades para fazer um tratamento eficaz do tumor de G., eu e o Marcio várias vezes chegamos a cogitar a possibilidade de usar alternativas extremas. Nosso raciocínio se baseava na mesma lógica que rege a quimioterapia, isto é, intoxicar o paciente com uma substância que seja grandemente prejudicial para o câncer. Mesmo que faça mal em outras partes do organismo, esse procedimento pode ter um balanço positivo se os danos causados ao tumor forem permanentes e os malefícios ocorridos no restante do organismo forem passíveis de recuperação. Cedo identificamos o nosso maior problema: se errássemos na dose os danos poderiam ser muito grandes e até fatais. Este raciocínio é formado por um conjunto de idéias arriscadas e pode parecer descabido, mas lamento ter sido incapaz de avaliar adequadamente as probabilidades, pois tenho certeza que o caminho seria esse. Outra razão pela qual não tentamos é o fato de que em momento algum encontramos apoio à idéia por parte de pessoas mais experientes que nós. Também, quem seria insano o suficiente para apoiar dois leigos que se propunham a curar um tumor cerebral?

Durante meses vi o Marcio tentar tudo o que parecia ser útil ou necessário, nada foi negligenciado por ele. Incansavelmente, ele estudou, consultou, falou com muitas pessoas, professores catedráticos, doutores e pesquisadores. Se alguém pode afirmar ter feito absolutamente tudo o que estava a seu alcance, este alguém é ele. Lamentavelmente, as mesmas drogas que talvez sejam responsáveis pelo sucesso até agora do tratamento de meu pai não foram suficientes para alterar o curso da doença em sua esposa. Poucos dias antes da ressonância de meu pai que menciono no começo deste artigo, o estado de saúde dela se agravou. O problema começou com uma convulsão e progressivamente foi piorando até seu passamento. Por isso, quando ficamos sabendo do bom resultado do exame, não tive vontade alguma de comemorar. Eu estava muito triste pela perda da G., minha amiga, que eu nem mesmo conheci pessoalmente. Nessa ocasião decidi que não mais comemoraria os sucessos que obtivéssemos em respeito a todos com quem tive contato e que perderam seus entes queridos para essas doenças nefastas.

Atualmente o Marcio está recompondo sua vida ao lado da filha. Ainda nos comunicamos e no último e-mail deu-me uma notícia que confirmou tudo o que eu já sabia sobre ele. Por sua imensa capacidade (humana e técnica) ele foi promovido e deverá mudar-se para os Estados Unidos, onde irá trabalhar no quartel-general da empresa, que é uma multinacional de grande porte. Uma coisa destas não é algo que se consiga por acaso.


Tenho duas coisas finais a dizer ao Marcio:
  • Tenho certeza que a G. está agora em um lugar melhor e, orgulhosa, sabe que seu marido em nada perde para o melhor de todos os maridos.

  • Vá e seja feliz. Tudo dará certo pois você é capaz e nunca se omite. Assim, mesmo quando a derrota ocorre, pode descansar com sua consciência tranqüila.

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