7.7.07

Em respeito a todos os que conheci e me ajudaram muito.

Tenho algumas coisas a declarar:
  1. Meu pai está vivo e sem recidiva. Seu diagnóstico foi feito em 25/09/05. A última ressonância foi realizada em 05/06/07 e não mostra nenhum sinal de atividade tumoral;
  2. Até aquela data são 618 dias de sobrevida sem recidiva. Ou 1 ano, 8 meses e 20 dias;
  3. Seu estado de saúde é bom. Ele não apresenta sequelas graves e está, inclusive, trabalhando;
  4. A única deficiência é um leve desequilíbrio e o caminhar um pouco alterado, que poderiam ser resolvidos se ele aceitasse fazer exercícios físicos adequados e regulares.
  5. Tudo o que sei e tenho a dizer está escrito no blog. São mais de 200.000 palavras, que me consumiram muito, muito tempo e esforço. Quem quiser leia.
  6. Não responderei a post com perguntas. Fiz muito isto e algumas pessoas são extremamente abusadas.
  7. Parei de me manifestar, porque tenho muito mais o que fazer (trabalhar e criar três filhos, por exemplo), porque saturei completamente do assunto e de algumas pessoas, mais malignas que o tumor;
  8. Voltarei a me manifestar quando e se ele atingir dois anos de sobrevida.
  9. Caso esta marca seja atingida, revelarei nossas identidades e passarei a assinar o blog com meu próprio nome.

Meus melhores conselhos:
  • Tenham Fé;
  • Sobrevida Longa é possível;
  • Acredito na possibilidade de cura;
  • A medicina que os médicos podem praticar, dentro dos preceitos da profissão e da lei, é insuficiente para tratar tumores altamente malignos;
  • Portanto, faz-se necessário agregar simultaneamente vários outros componentes ao tratamento;
  • Aja o mais rápido possível;
  • Um bom cirurgião é um elemento imprescindível no tratamento;
  • Procure por medicamentos e substâncias que tenham evidências científicas no sentido desejado e que não envolvam riscos expressivos;
  • Legalmente falando, só um médico pode prescrever um tratamento para qualquer doença.
  • Moralmente falando, me senti obrigado a tentar curar meu pai, uma vez que a medicina protocolar e oficial não tem esta ambição. Até agora, está funcionando.

Muito obrigado aos meus amigos reais e virtuais. Felicidade, Força e Perseverança a todos.

Miguel Francisco

Obs.: Por uma mudança na conta do blogspot, minhas postagens, daqui para frente, sairão assinadas como PEMG

16.5.07

Justiça Obriga o Estado a fornecer remédio

TJ manda Estado fornecer remédio a paciente com câncer
Segunda-feira, 14 de Maio de 2007 17:37
(Sandra Luz-Campo Grande News)

A 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul determinou, nesta segunda-feira, dia 14, que a Secretaria de Saúde do Estado forneça os medicamentos para um paciente que teve câncer no pulmão. Os medicamentos, Capecitabina 500 mg (Xeloda) e Imatinib 400 mg custam R$ 9,3 mil mensais, custo que o paciente não pode arcar.

O nome do paciente não foi divulgado. Conforme o TJ, o paciente extraiu um tumor maligno dos pulmões, mas restaram lesões secundárias. Caso ele não receba os medicamentos, a doença volta a avançar. A decisão foi por unanimidade e com conformidade da Procuradoria-Geral de Justiça.

Este ano, segundo a secretária de Saúde Beatriz Dobashi, Mato Grosso do Sul deve gastar R$ 29 mil com medicamentos. O valor deve ser maior por conta dos processos judiciais. Até abril foram cerca de 600.

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8.2.07

Por que não comemoro mais os resultados das ressonâncias.

Um agradecimento ao Márcio, meu irmão, tenaz e lutador.


A ressonância
No dia 03/08/06, muito perto de completar 10 meses da data da cirurgia, fomos ao instituto de radiologia para mais uma ressonância magnética de controle da evolução da doença. Como se sabe, tendo em vista a agressividade dos tumores do tipo glioblastoma, é necessário fazer um acompanhamento constante, o que permite identificar o mais cedo possível o ressurgimento da doença e assim tomar providências rapidamente para evitar danos maiores.

Naquela data, meu pai estava fazendo o sexto ciclo de quimioterapia com temodal, portanto um pouco fragilizado. Apesar disto, o procedimento foi muito tranqüilo. Ajudei-o a se trocar e o levei até a sala. Depois, junto com minha esposa, assisti a todo o exame da sala do técnico em radiologia. À medida que as sucessivas imagens iam sendo geradas, não eram evidentes mudanças significativas em relação ao exame realizado dois meses antes. Esta minha suposição foi confirmada quando o Dr. A., médico radiologista veio ver junto conosco as imagens. Comparando-as com as do exame anterior, ele nos afirmou que aparentemente não havia nenhuma alteração, mas disse que faria uma análise mais minuciosa antes de emitir o laudo. Quando este nos foi entregue, confirmou que não havia indícios de atividade tumoral. Tendo em vista nossas expectativas, sempre ruins em função das estatísticas que conhecemos, um resultado como esse seria merecedor de uma grande comemoração ou, no mínimo, de um post com o “Feliz da Vida: Hip, Hip, Hurra!”, que fiz quando da ressonância anterior. Mas desta vez eu nada fiz, além de comunicar a todos a realidade.

Para que se possa entender os motivos que eu tinha para ficar alegre, é preciso saber que apenas uma parcela pequena dos pacientes de glioblastoma chega ao décimo mês após a cirurgia sem que o tumor tenha voltado. Uma medida muito utilizada para fazer comparações entre dois tratamentos distintos é o “Tempo de Sobrevivência Livre de Progressão da Doença”, em inglês “Progression Free Survival”, conhecido pela sigla PFS. Os dados, obtidos pelo acompanhamento do histórico de milhares de pacientes, indicam que cerca de metade deles têm uma recidiva antes de 6 meses. Com a introdução do uso da temozolamida esta perspectiva parece ter melhorado um pouco. Ainda assim, a porcentagem dos que chegam aos 10 meses livres de recidiva, mesmo com o temodal, é bem pequena (menos que 10%). Considerando que meu pai tinha muitos fatores de prognóstico ruins, a nossa esperança de que atingisse essa marca era praticamente nenhuma, o que não nos impediu de fazer todo o possível em nossa luta. Felizmente, para contrariar as estatísticas, as expectativas não se confirmaram e é possível que nossos esforços tenham tido grande influência na obtenção deste memorável resultado. Portanto, Hip, Hip, Hurra!, três vezes. Meu pai estava muito bem.

Uma Ajuda Inesperada e de Inestimável Valor!
A história deste blog é a história de uma busca desesperada por tratamentos complementares para essa doença terrível chamada glioblastoma multiforme. Quando decidi escrevê-lo, tinha o propósito de relatar o caso e compartilhar as minhas descobertas e dúvidas com quem delas precisasse ou pudesse ajudar. Esperava também poder contar com o discernimento e as críticas dos que viessem a ler minhas conclusões. Passados alguns meses, quando eu já não esperava mais, aconteceu o improvável, pelo blog ganhei um aliado muito valoroso: o Marcio, um engenheiro, de ascendência nipônica, residente em uma cidade de Minas Gerais, contatou-me e isto fez enorme diferença! Sua razão para estar lendo o Diário era o fato de sua jovem esposa ser portadora de uma doença similar e tão grave como a de meu pai.

G. , a esposa de Márcio, na época que os conheci, tinha 29 anos e era mãe de uma linda menina de 2 anos. A história dela com tumores cerebrais havia começado oito anos antes, quando foi diagnosticado um Astrocitoma de Grau II, um dos possíveis tumores cerebrais da glia, no caso, das células chamadas astrócitos. O grau II significa uma malignidade muito menor que a dos tumores de Grau III ou IV. Este tumor inicial foi operado com sucesso e sua vida foi completamente normal e livre de seqüelas por vários anos. Mais tarde, terrivelmente, um novo tumor foi encontrado. A nova neoplasia foi identificada em uma tomografia de controle e classificada como Astrocitoma Anaplásico, também um glioma maligno, de Grau III. Seu tamanho, já na época do diagnóstico, era muito grande, bem maior e disseminado do que o encontrado em meu pai. Por esta razão, a cirurgia, o passo inicial do tratamento, não pode ser tão bem sucedida. Os cirurgiões encontraram muitas dificuldades para retirar o tumor sem causar lesões ou seqüelas à paciente. Como conseqüência, restou inoperável uma importante quantidade de massa tumoral em seu cérebro. A tarefa de combater esta porção do tumor deveria então ser feita pela radioterapia e pela quimioterapia. Como o prognóstico comunicado ao Marcio após a cirurgia não foi bom, ele passou a procurar alternativas e complementos que melhorassem as perspectivas.

Durante meses me correspondi com o ele diariamente por e-mail (várias vezes ao dia) e muitas vezes falamos ao telefone. Juntos, decidíamos o que pesquisar, como analisar, quais eram as conclusões e o que fazer com elas. Sempre dividíamos todo o trabalho em partes iguais e, como bom samurai, ele invariavelmente acabava a parte que lhe cabia antes que eu acabasse a minha, num exemplo de perseverança e dedicação muito difícil de se encontrar igual. Sua inteligência e força de vontade ajudaram sobremaneira na escolha dos complementos que depois seriam usados em meu pai e em sua esposa. Como julgo serem estes complementos os responsáveis pela ótima evolução do caso de meu pai, há muito tenho que dizer algo publicamente: MARCIO, MUITO OBRIGADO! Você escreveu seu nome para sempre na história de minha família. Sempre seremos gratos.

Com o passar do tempo e antevendo as dificuldades para fazer um tratamento eficaz do tumor de G., eu e o Marcio várias vezes chegamos a cogitar a possibilidade de usar alternativas extremas. Nosso raciocínio se baseava na mesma lógica que rege a quimioterapia, isto é, intoxicar o paciente com uma substância que seja grandemente prejudicial para o câncer. Mesmo que faça mal em outras partes do organismo, esse procedimento pode ter um balanço positivo se os danos causados ao tumor forem permanentes e os malefícios ocorridos no restante do organismo forem passíveis de recuperação. Cedo identificamos o nosso maior problema: se errássemos na dose os danos poderiam ser muito grandes e até fatais. Este raciocínio é formado por um conjunto de idéias arriscadas e pode parecer descabido, mas lamento ter sido incapaz de avaliar adequadamente as probabilidades, pois tenho certeza que o caminho seria esse. Outra razão pela qual não tentamos é o fato de que em momento algum encontramos apoio à idéia por parte de pessoas mais experientes que nós. Também, quem seria insano o suficiente para apoiar dois leigos que se propunham a curar um tumor cerebral?

Durante meses vi o Marcio tentar tudo o que parecia ser útil ou necessário, nada foi negligenciado por ele. Incansavelmente, ele estudou, consultou, falou com muitas pessoas, professores catedráticos, doutores e pesquisadores. Se alguém pode afirmar ter feito absolutamente tudo o que estava a seu alcance, este alguém é ele. Lamentavelmente, as mesmas drogas que talvez sejam responsáveis pelo sucesso até agora do tratamento de meu pai não foram suficientes para alterar o curso da doença em sua esposa. Poucos dias antes da ressonância de meu pai que menciono no começo deste artigo, o estado de saúde dela se agravou. O problema começou com uma convulsão e progressivamente foi piorando até seu passamento. Por isso, quando ficamos sabendo do bom resultado do exame, não tive vontade alguma de comemorar. Eu estava muito triste pela perda da G., minha amiga, que eu nem mesmo conheci pessoalmente. Nessa ocasião decidi que não mais comemoraria os sucessos que obtivéssemos em respeito a todos com quem tive contato e que perderam seus entes queridos para essas doenças nefastas.

Atualmente o Marcio está recompondo sua vida ao lado da filha. Ainda nos comunicamos e no último e-mail deu-me uma notícia que confirmou tudo o que eu já sabia sobre ele. Por sua imensa capacidade (humana e técnica) ele foi promovido e deverá mudar-se para os Estados Unidos, onde irá trabalhar no quartel-general da empresa, que é uma multinacional de grande porte. Uma coisa destas não é algo que se consiga por acaso.


Tenho duas coisas finais a dizer ao Marcio:
  • Tenho certeza que a G. está agora em um lugar melhor e, orgulhosa, sabe que seu marido em nada perde para o melhor de todos os maridos.

  • Vá e seja feliz. Tudo dará certo pois você é capaz e nunca se omite. Assim, mesmo quando a derrota ocorre, pode descansar com sua consciência tranqüila.

27.1.07

Temporariamente não responderei aos comentários que contiverem perguntas

Este blog, a cada dia, tem recebido mais e mais visitantes. Muitos, com problemas similares, fazem-me perguntas através dos comentários. Desde o início sempre tentei responder a todas as questões de maneira minuciosa e responsável. Mas isto tem consumido diariamente grande parte de meu tempo disponível. Como o tratamento de meu pai continua, ainda tenho muito que fazer se quiser mantê-lo vivo e saudável. Além disto, o próprio blog carece de novos artigos sobre importantes temas correlatos ao tratamento de tumores do cérebro, que ainda não foram abordados de maneira consistente. Por estes motivos, estou parando de responder às perguntas feitas.

Dedicarei-me agora ao seguinte:
  • Preparar um artigo sobre nutrição oncológica;
  • Terminar a tradução do texto “Opções de Tratamento para Glioblastomas e outros Gliomas, do Prof. Ben Willians;
  • Atualizar o tópico “Dia a dia do tratamento”;
  • Traduzir um guia para pacientes recentemente diagnosticados;
  • Escrever um artigo resumindo como foi o tratamento de meu pai até agora;
  • Elaborar uma relação das perguntas mais freqüentemente feitas junto com suas respostas;
  • Escrever um artigo sobre o que hoje sei que é importante no tratamento de tumores de Grau IV.;
  • Preparar um resumo sobre as descobertas científicas mais importantes para o tratamento, publicadas no ano de 2006.

Espero concluir os novos trabalhos num período de dois meses.
Responderei a todas as perguntas que foram postadas até o dia de ontem (26/01/07).
Qualquer comentário que for feito durante este período será publicado normalmente.

Espero contar com a compreensão de todos.

Miguel Francisco

25.1.07

Para as pessoas que fazem comentários incluindo perguntas.

1.Procuro responder a todos igualmente.

2.Nem sempre posso responder no mesmo dia.

3.Como todos podem deduzir, sou um cidadão comum, que trabalha, tem filhos, afazeres, responsabilidade e, além disto, pai para cuidar.

4.Este blog contém atualmente mais de 200 mil palavras falando quase exclusivamente sobre tumores cerebrais do tipo glioblastoma multiforme – glioma de grau IV. É bastante provável que as eventuais perguntas que se tenha já estejam respondidas no conteúdo existente.

5.Antes de postar uma pergunta, por favor, leia o tópico “Como achar o que você está procurando neste blog”.

6.Por fim, só responderei perguntas feitas aqui no blog. Perguntas enviadas por e-mails não serão respondidas.

Obrigado.

Miguel Francisco.

Mais um que toma iniciativa.

Transcrevo abaixo o e-mail que recebi de um leitor do blog, acompanhado de minha resposta. A atitude deste leitor merece um artigo pelo fato de demonstrar princípios muito semelhates aos que me levaram a construir este relato do tratamento de meu pai: é preciso e possível fazer muito mais pelos pacientes portadores de "doenças terminais"!


O E-Mail:

Caro Miguel

Enviei esta mensagem para seu e-mail no dia 19/1/2007, para só hoje descobrir que enviei para o endereço errado.

Meu nome é Álvaro, e descobri seu blog ("Diário de um Tumor Cerebral") na segunda-feira da semana passada (8/1/07). Descobri enquanto fazia uma prospecção um pouco a esmo pela internet, em busca de entender um pouco mais sobre cânceres e possibilidades a respeito deles. A esta época, a minha mãe era uma paciente com forte suspeita de câncer.

Esta semana, nos veio a confirmação. O exame histo-patológico nos deu hoje o resultado, confirmando que ela possui um tumor no pulmão. Infelizmente, a primeira manifestação do tumor foi através de suas metástases, e infelizmente estas metástases residem no cérebro.

Já aprendi um bocado sobre câncer em geral e sobre o de pulmão em específico nestes dias. Lendo seu blog, resolvi tomá-lo como um exemplo. A sua história com o seu pai é encorajadora pra qualquer um com um diagnóstico ruim. Concordo com praticamente tudo o que li no seu blog, e me interessou muito o que faz o Prof. Ben Williams. Claro que o caso da minha mãe é diferente, pois não é um tumor cerebral primário, mas pelo que já pude olhar (comecei minhas pesquisas há pouco, ainda tenho muito caminho pela frente), muito do trabalho do Prof. Williams e o seu próprio, no seu blog, pode ser aproveitado para pacientes com outros tipos de câncer.

Creio que o principal que aprendi com vocês dois foi o exemplo, de buscar em fontes confiáveis todas as opções razoáveis para o problema, já que, tenho certeza, a medicina protocolar, isoladamente, nos predirá um prognóstico "reservado" (pra usar os eufemismos que textos sobre cânceres graves usam).

Entretanto, não sei quanto tempo eu tenho. Não posso me dar ao luxo de não aproveitar muito do material que você e o Prof. Williams já pesquisaram. Pretendo utilizar isto, naturalmente, em conjunção com as minhas próprias pesquisas sobre câncer em geral, e, no meu caso, câncer de pulmão, e metástases cerebrais.

O lado menos ruim disto tudo é que, apesar de serem múltiplas metástases, e de alguns sintomas limitantes, o estado geral da minha mãe é muito bom (segundo o próprio neurologista que a viu) para a quantidade de lesões que a Ressonância Magnética apresenta. Temos outros fatores bons, também, que são a aparente ausência de metástases em demais lugares (principalmente adrenais e fígado), a não invasividade do tumor em áreas vizinhas, como o mediastino e a pleura, as excelentes taxas que os exames de sangue trouxeram, dentre outros.

Entretanto, é um caso extremo, e, como você, creio que tenho que fazer mais, MUITO MAIS, para obter um sucesso. É bastante trabalhoso, já que sou leigo em medicina, mas creio que este é o caminho.

A razão pela qual lhe escrevo é por conta de posts em seu blog em que você lista as substâncias que vai pesquisar, e outros em que fala de um ou outro companheiro de pesquisa (dentre os quais, um, infelizmente, perdeu a esposa para o Glioblastoma). Eu gostaria, se possível, de ter acesso ao que de útil suas pesquisas podem ser ao nosso caso, para além, claro, daquilo que você já colocou no blog. Fiz um guia sobre o tratamento, e destaquei também um arquivo em que armazeno dados sobre a pesquisa farmacológica que estou iniciando, contando com quimioterápicos e substâncias convencionais e aquelas não convencionais. Estou, também, juntando o que posso de artigos científicos disponíveis pela internet, que baseiem, de alguma forma, as pesquisas. Encontrei, inclusive, um publicado na Revista Brasileira de Cancerologia que é uma revisão literária sobre Melatonina e câncer, que é muito bom. Baixei, inclusive, do portal do INCA.

No que me for possível, posso disponibilizar a você, também, os resultados do que eu conseguir pesquisar, embora eles ainda precisem de muito trabalho.

Ah, sobre a situação atual do caso da minha mãe, amanhã teremos a primeira consulta com um oncologista, na Oncoclínica (RJ, capital, onde moramos). Dependendo da consulta, iremos também ao INCA, na segunda-feira.

Agradeço a sua atenção, espero que leia meu e-mail rapidamente.

PS: Encontrei seu perfil no orkut, e segui alguns de seus posts em comunidades médicas no orkut, em especial os em que você conversava com os médicos sobre seu dilema farmacocinético. Aliás, gostaria de saber, afinal, se você conseguiu resolver o dilema, ou se de fato espera um dia depois da quimioterapia para administrar antioxidantes, e pára a administração um dia depois.

PS2: Já tivemos a consulta com a oncologista. Depois posso escrever contando mais.

PS3: Como está seu pai? Nesta altura, calculo que são um ano e quatro meses (16 meses) desde o diagnóstico, não?

Obrigado

A resposta:


Olá Álvaro,

Recebi seu e-mail e depois observei que você já havia o enviado pelo Orkut. Lá ele caiu na caixa de mensagens e, como raramente leio o que aparece nela, ficou abandonado. Teria sido mais fácil me contatar através do blog, onde respondo às postagens dos leitores pelo menos uma vez por semana. Aviso-lhe que vou transcrever para o blog nossa conversa, mantendo sua identidade preservada. Isto permite que outros façam uso de nossa troca de experiências.

Bom, lendo tudo o que você escreveu, acho que você já pegou bem o “espírito” da coisa. Sem eufemismos, câncer de pulmão com metástases cerebrais é estatisticamente quase tão letal quanto o glioblastoma. Assim, como você já percebeu, não dá para ficar esperando que o protocolo seja suficiente.

Concordo que você já aprendeu um bocado sobre o câncer, principalmente as reais perspectivas e as limitações da medicina institucional. Talvez o que você ainda não tenha aprendido, e que só o tempo vai ensinar, é o quanto é difícil tomar decisões acerca de terapias complementares, convencer os outros (parentes principalmente, pois médicos é impossível) de que elas são corretas e ter a coragem de colocar em prática suas suposições quando elas representarem riscos. Você deverá ser muito racional, frio e calculista. Na realidade tudo que se pode fazer é montar um grande esquema onde as terapias complementares agreguem probabilidades de êxito, sem agregar muita probabilidade de um erro grave. É algo simples de falar, mas extremamente difícil de fazer. Verdadeira luta contra um monstro poderoso de dimensões gigantescas.

Fico feliz que o blog tenha estimulado você a “assumir o controle”, depois de constatar que os outros se mostram conformados com as perspectivas. Também tenho certeza que o Prof. Ben A. Williams ficaria orgulhoso de sua influência em nossos destinos. Espero um dia escrever a ele e contar como ele influenciou nossas vidas e a de nossos entes queridos.

É verdade que alguns complementos terapêuticos mencionados aqui e/ou no trabalho do Dr. Williams são úteis em vários tipos de câncer, mas, preste bastante atenção: não existem panacéias, isto é, não existem remédios que sirvam ao mesmo tempo para todos os cânceres ou todos os tipos de doenças. Inclusive alguns, que são muito benéficos em determinados casos, podem ser um verdadeiro desastre em uma patologia um pouco diferente. Se continuar a pesquisar em fontes confiáveis, logo você encontrará exemplos disto.

De fato, a partir do diagnóstico nunca sabemos se o tempo de que dispomos será suficiente para nossa busca. Assim, é uma boa idéia partir do trabalho de outros, desde que o mencionado no parágrafo anterior esteja em mente e sejamos criteriosos. Acho que sua primeira providência é estabelecer prioridades e planejar sua busca de alternativas e complementos terapêuticos. Existe um post no blog de título “Fatores Para Intervir e Ajudar a Controlar Cânceres e Tumores”, acredito que ele indica em linhas gerais o que você estará procurando. Uma segunda providência, que é similar ao que eu fiz, é listar todas as substâncias que eventualmente possam ser úteis para o tratamento e verificar o quão freqüente é o aparecimento delas em associação com câncer pulmonar. Para isto você deve pesquisar somente sites de cunho realmente científico. Na época eu usei somente o PubMed, hoje talvez usasse o Google Acadêmico, que inclui uma base de dados maior que o primeiro. A lista com as freqüências permitirá estabelecer uma hierarquia de forma a apostar suas fichas (o tempo) nas pesquisas que oferecem maior probabilidade de resultarem em algo palpável e que dispõem de mais abundancia de material científico a ser pesquisado. Para eliminar um bocado de trabalho, antes de avaliar se o medicamento ou complemento é útil para sua mãe, lembre-se de verificar inicialmente: segurança, interações e disponibilidade. Por exemplo, desde um mês após o diagnóstico de meu pai, sei que a talidomida teria sido um complemento potencialmente muito útil, mas é praticamente impossível comprar ou conseguir este medicamento sem que o paciente esteja em um protocolo científico de testes clínicos. Desta forma abandonei a idéia muito cedo. A ironia é que cerca de dez meses após o começo do tratamento fiquei sabendo por intermédio de um neurologista que estava sendo iniciado em um trial em São Paulo usando exatamente a associação que eu desejava fazer, isto é temozolamida + talidomida.

Sobre nossas pesquisas o que posso lhe dizer é que, embora tenha muitos e-mails guardados eles não estão organizados o suficiente para eu repassa-los a você. Por isso, vou tentar citar aqui o que pesquisamos detalhadamente na literatura médica e científica e o que aprovamos para ser agregado ao tratamento.

-Pesquisados: raloxifeno, tamoxifen, acutane, unha de gato(uncária tomentosa), vitamina D (alfacalcidol e calcitriol), omega3 (fish oil), selênio, centrum silver, targifor C, forten, fosfoamidas, brotos de brócolis. (Não sei se esqueci algum).

-Aprovados: vitamina D (só alfacalcidol), omega3, selênio, centrum Silver, targifor C, forten. Além, é claro, da melatonia, licopeno e alterações nutricionais.

Os demais ou não apresentavam evidências de efetividade ou tinham uma relação risco/benefício ruim. No entanto, a dupla raloxifeno/tamoxifem é algo que acho que não foi suficientemente estudado ou avaliado e é provável que tenhamos errado ao deixá-los de fora. Por isto, recomendo que você inclua em suas pesquisas.

Aceitarei de muito bom grado os resultados de suas pesquisas e os publicarei aqui, desde que sejam muito criteriosos.

Sobre o Dilema Farmacocinético, a situação ficou da seguinte maneira. Depois de muito discutir com médicos, farmacêuticos e bioquímicos, acabei concluindo que a probabilidade dos antioxidantes tornarem inefetivo o quimioterápico é mínima. A maioria das pessoas, comodamente, gosta muito de lembra que não existem evidências que indiquem a apropriação do uso simultâneo, o que não é resposta para a pergunta que fiz, mas sim uma forma de escapar dela. Eu pensei de uma forma mais pragmática. Tendo em vista os enormes custos do quimioterápico, parece muito razoável não arriscar. Assim, interrompíamos a administração de antioxidantes um dia antes do início do ciclo e retomávamos um dia depois.

A respeito da consulta que você tiveram com a oncologista imagino que sei exatamente o que aconteceu, mas para não demonstrar meus preconceitos nem propalá-los, prefiro que você conte.

Sua última pergunta foi sobre o estado atual de meu pai. A resposta é simples: está bem. Frente às perspectivas que nos apresentaram na época do diagnóstico, está muito bem. Fala, anda, come, brinca, trabalha e teima incessantemente em voltar a dirigir, coisa esta que ainda não permitimos, pois a única seqüela evidente é um leve déficit no equilíbrio.
Miguel Francisco.

22.11.06

1 Ano, 1 Mês e 23 Dias

25/09/05 16:00 - Estou em uma sala de tomografia vendo meu pai ser diagnosticado como tendo um monstro na cabeça, um tumor cerebral chamado Glioblastoma Multiforme de Grau IV, do qual eu nunca havia ouvido falar;

17/11/06 16:00 - Estou numa sala ao lado daquela. Agora fazemos uma Ressonância Magnética de controle, a quarta só este ano. Resultado: nenhum sinal de recidiva do tumor, ou seja, até agora o tumor que "sempre volta" ainda não voltou. Meu pai faz quase tudo o que fazia antes da doença, exceto dirigir, apresentar alguns poucos lapsos de memória e sonolência, derivada dos 21 mg de melatonina que toma diariamente.

Foram 1 Ano, 1 Mês e 23 Dias de luta sem trégua. Nesse intervalo de tempo ele passou por cirurgia, radioterapia e quimioterapia apenas uma vez. Hoje, aos 71 anos de idade, ele é, como dizem os estatísticos, um "ponto fora da curva". Ou seja questiona e contraria muito do que se previa. E ainda devo destacar que, quando do diagnóstico, ele apresentava quase todos os fatores para prognóstico péssimo.

Neste período vi o sofrimento de muita gente e, em alguns casos, sofri junto com pessoas que nem conhecia pessoalmente. Assim, me tornei mais pudico com relação às comemorações.

Hoje digo apenas: estou feliz.

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